sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Até Martha Medeiros se rendeu.

Pois o charme dos felinos conquistou até a Martha Medeiros, uma das minhas autoras favoritas. Conta ela que adotou um gatinho de cinco meses e que está encantada com o bichano. Vai abaixo o texto onde ela confessa seu novo amor...

ARISTOGATOS

Nunca imaginei ter um bicho de estimação por uma questão de ordem prática: moro em apartamento, sempre morei. E se morasse em casa, escolheria um cachorro. Logo, nunca considerei a hipótese de ter um gato, fosse no térreo ou no décimo andar. Quando me falavam em gato, eu recorria a todos os chavões pra encerrar o assunto: gato é um animal frio, não interage, a troco de quê ter um enfeite de quatro patas circulando pela casa?

Hoje, dona apaixonada de um gato de 5 meses (e morando no décimo andar), já consigo responder essa pergunta pegando emprestada uma frase de um tal Wesley Bates: "Não há necessidade de esculturas numa casa onde vive um gato". Boa, Wesley, seja você quem for. Gato é a manifestação soberana da elegância, é uma obra de arte em movimento. E se levarmos em consideração que a elegância anda perdendo de 10 x 0 para a vulgaridade, está aí um bom motivo para ter um bichano aninhado entre as almofadas.

Só que encasquetei de buscar argumentos ainda mais conclusivos. Por que, afinal, eu me encantei de tal modo por um felino? Comecei a ler outras frases irônicas e aparentemente pouco elogiosas. Mark Twain disse que gatos são inteligentes: aprendem qualquer crime com facilidade. Francis Galton disse que o gato é antissocial. Rob Kopack disse que se eles pudessem falar, mentiriam para nós. Saki disse que o gato é doméstico só até onde convém aos seus interesses. Estava explicado por que gamei: qual a mulher que não tem uma quedinha por cafajestes?

Ser dona de um cachorro deve ser sensacional. Lealdade, companheirismo, reciprocidade, eu sei, eu sei, eu vi o filme do Marley. Cão é boa gente. Só que o meu cachorro preferido no cinema nunca foi da estirpe de um Marley. Era o Vagabundo, sabe aquele do desenho animado? O que reparte com a Dama um fio de macarrão, ambos mastigam, um de cada lado, e mastigam, mastigam até que (suspiro... a emoção impede que eu continue). Eu trocaria todos os príncipes loiros e bem comportados da Branca de Neve e da Cinderela pelo livre e irreverente Vagabundo, que foi o personagem fetiche da minha infância. E lembrando dele agora, consigo entender a razão: aquele malandro tinha alma de gato.

Imagino que, com essa crônica, eu esteja revelando o lado menos nobre do meu ser. Pareço tão sensata, tão bem resolvida, tão madura - quá! - tenho outra por dentro. Que vergonha. Levei mais de 40 anos para me dar conta de que não faço questão de uma criatura que me siga, que me agrade, que me idolatre, que me atenda imediatamente ao ser chamado, que me convide pra passear com ele todo dia. Sendo charmoso, na dele e possuindo ao menos alguma condescendência comigo, tem jogo. Cristo, um simples gato me fez descobrir que sou mulher de bandido.

Martha Medeiros

Feito uma prostituta.

Pois é. Tenho trabalhado ultimamente como balconista de uma farmácia. Antes que alguém pergunte, foi isso que surgiu, fazer o quê? Em menos de um mês já atendi um australiano e hoje um americano; o primeiro em visita à cidade, o segundo, pelo visto, veio para ficar, pois já fala um português melhor que o de muita gente daqui. O que o denunciou foi o leve sotaque. Aí fico eu aqui com meus botões sonhando com a possibilidade de um americano desses vir comprar uma aspirina, gostar de mim e desse meu jeitinho estabanado, e me levar com ele para os "estates". Fico parecendo uma prostituta, daquelas que passam a vida torcendo para que um de seus clientes se apaixonem e a tirem da chamada "vida fácil", que no meu ponto de vista de fácil não tem nada. Mas, como sonhar é o que me resta... quem sabe eu conheça um texano, com aquele jeitinho de falar arrastado, que queira juntar o chapéu de cowboy com uma brasileirinha?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pedido às estrelas.

Sexta-feira o Alexandre Fetter contou uma história bem bacana no Pretinho Básico que eu resolvi reproduzir aqui. Ele leu uma notícia onde cientistas afirmavam que pedidos feitos às estrelas se realizam, em sua maioria. Então contou que uma noite qualquer ele estava com seu filho Théo, agora com cinco anos, e apontou para uma estrela. Então aconteceu um diálogo mais ou menos assim:

-‘Tá vendo aquela estrela, filho, a maior e mais brilhante? Sabia que se a gente faz um pedido pras estrelas ele se realiza? Então, faz um pedido!
-Pronto, pai, já fiz – respondeu o menino.
- Conta só aqui pro pai, o que você pediu, filho?
- Um picolé.

Não é um fofo? Quando se é criança a vida é tão mais simples. Um dos motivos é porque as crianças são mais inteligentes que nós, adultos, pois percebem a felicidade nas coisas simples, como passear de bicicleta no parque, assistir a um desenho na televisão, brincar com o cachorrinho, comer um picolé. Depois de adultos desaprendemos a curtir os pequenos prazeres, que são a verdadeira felicidade. O que é uma pena. Aposto que haveria bem menos pessoas com estresse ou mesmo câncer se todos soubéssemos aproveitar as pequenas grandes felicidades do dia-a-dia, como uma boa música, um filme bacana, olhar a lua cheia que nos observa do céu, brincar com os filhos. Afinal, a vida não deveria ser feita apenas de trabalho e problemas, mas também de alegrias, já que não se vive para sempre. Este é o meu pedido às estrelas: que todos possam cultivar o lado criança que nos mantêm felizes apesar dos problemas do cotidiano. Utopia? Pode ser. Mas não custa nada sonhar.

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